Instituto de Ortopedia e Traumatologia da USP terá robô para ajudar a produzir órteses

Dispositivo produz assentos de cadeiras de roda personalizados em apenas uma hora - antes, demorava cerca de um dia


O primeiro robô para a produção de órteses no serviço público brasileiro está a caminho e tem origem no Instituto de Ortopedia e Traumatologia da USP (Universidade de São Paulo). Foram quatro anos de desenvolvimento até chegar no produto final. O projeto foi idealizado pela terapeuta ocupacional Cândida Luzo e por Selma Lancman, professora da universidade. 

A órtese é diferente da prótese, porque neste caso o objetivo é auxiliar as funções de um membro, órgão ou tecido, para evitar deformidades ou sua progressão. A prótese, por sua vez, é um dispositivo permanente ou transitório que substitui de forma total ou parcial um membro, órgão ou tecido.

O grande trunfo do equipamento produzido pelas pesquisadoras é poder produzir assentos de cadeiras de roda personalizados em apenas uma hora com a ajuda do braço robótico. O feito só é possível graças a uma ferramenta de corte acoplada na extremidade do aparelho, chamada de fresa. Antes, o trabalho era feito manualmente com um estilete e demorava um dia para ser concluído.

"A ideia não é só criar uma cadeira que seja confortável, mas que tenha angulações, uma conformação que ajude no processo de reabilitação, a respirar melhor, a manter a postura", disse Selma Lancman, em entrevista para a Folha de S.Paulo. Um assento inadequado pode ser desconfortável, além de poder provocar feridas. Para isso, uma espuma é moldada de acordo com a distribuição do peso corporal e o tamanho da pessoa.

O serviço faz parte do Hospital das Clínicas (HC) e atende vários públicos - entre eles, pessoas que sofreram algum tipo de trauma em acidentes de trânsito e indivíduos com  doenças como distrofia de duchenne e esclerose múltipla. O objetivo é reduzir o tempo de espera para uma cadeira de rodas, já que hoje há 450 pessoas na fila.

O braço robótico ainda tem outra utilidade: produzir coletes ortopédicos. Neste caso, o paciente é escaneado. Depois, a imagem é enviada para um software, que oferece instruções ao robô para fabricar uma réplica em espuma. Antes da inovação, era necessário fazer um molde de gesso do tronco do paciente e construir uma espécie de boneco para, então, fazer o colete. Isso no serviço público poderia levar 40 dias. O custo do colete para o serviço privado é de cerca de R$ 4.500. Com a nova técnica, o poder público pode gastar menos da metade.

Participaram do projeto, além do Instituto de Ortopedia e Traumatologia da USP, o Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina, a Universidade Federal da Paraíba e a Universidade Federal do ABC. O robô custou R$ 100 mil; o software que o comanda, US$ 40 mil (R$ 167 mil); a instalação, R$ 30 mil; isso sem contar o custo de treinamento do operador (R$ 12 mil). Tudo foi custeado pelo Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Inicialmente, o robô será utilizado em protocolos de pesquisa e na formação de profissionais.