Parque Três Pescadores, em Aparecida, ajuda a devolver araras à floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro
O grupo é formado por um macho e três fêmeas, que haviam sido resgatados de cativeiros ilegais e apreendidos em ações contra o tráfico de animais silvestres.
Pela primeira vez em dois séculos, a Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, voltou a receber araras-canindé (ou araras-azul-amarelas) em vida livre. A reintrodução das aves, ocorrida no início de junho, foi viabilizada por um trabalho de recuperação e reabilitação feito no Refúgio das Aves, localizado no Parque Três Pescadores, em Aparecida, no interior de São Paulo.
O grupo é formado por um macho e três fêmeas, que haviam sido resgatados de cativeiros ilegais e apreendidos em ações contra o tráfico de animais silvestres. Durante um ano, as aves passaram por tratamento especializado no Refúgio das Aves, onde receberam cuidados veterinários, alimentação balanceada e acompanhamento de biólogos até estarem aptas para voltar ao ambiente natural.
A soltura faz parte de um projeto de reintrodução conduzido pela ONG Refauna, com apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). As araras foram transportadas de Aparecida ao Parque Nacional da Tijuca, onde agora passam por um período de aclimatação. A liberação definitiva deve ocorrer entre quatro e seis meses, após monitoramento com radiotransmissores e anilhas.
Juliana Fernandes, bióloga responsável pelo Refúgio das Aves, explicou que o retorno da espécie à floresta da Tijuca é resultado de um rigoroso processo de avaliação comportamental e sanitária. "Desde 2019 o projeto buscava animais em condições ideais para reintrodução. Graças ao nosso trabalho técnico, conseguimos preparar essas aves para cumprir essa missão de repovoar um bioma tão simbólico", afirmou.
A última presença registrada da espécie em vida livre no Rio de Janeiro foi em 1818. Além de sua beleza exuberante, as araras-canindé têm papel essencial no ecossistema, contribuindo para a regeneração da Mata Atlântica por meio da dispersão de sementes.
Resultados positivos em Aparecida
As araras reintroduzidas são as primeiras do Refúgio das Aves a retornarem à natureza, mas o projeto já apresenta outros resultados importantes. Desde sua inauguração em julho de 2024, o local registrou o nascimento de filhotes de pombas-asa-branca e maritacas, indicativo de que o ambiente está adequado à reprodução e recuperação das espécies.
Atualmente, o espaço abriga mais de 135 animais de 27 espécies diferentes, todos vítimas de tráfico, maus-tratos ou entregues voluntariamente. Entre os moradores estão jabutis, tucanos, papagaios, corujas, garças, periquitos, curicacas, siriemas, cutias, entre outros.
Fernando Ramos, gerente do Parque Três Pescadores, destacou a importância da iniciativa. "Celebramos o primeiro aniversário do Parque com a certeza de que estamos contribuindo de forma concreta para a conservação ambiental. O retorno das araras à natureza é uma vitória não só para o projeto, mas para toda a sociedade."
Preservação e educação ambiental
O Refúgio das Aves faz parte de uma Área de Preservação Permanente (APP) às margens do Rio Paraíba do Sul, onde já foram plantadas mais de 430 árvores. O espaço também é aberto à visitação e educação ambiental, com programas que integram estudantes, universidades e pesquisadores. Um percurso ecológico apresenta aos visitantes a fauna e flora da região e reforça a importância da preservação do meio ambiente.
O tráfico de animais silvestres, que movimenta cerca de US$ 2 bilhões por ano, ainda representa uma das maiores ameaças à biodiversidade brasileira. Estima-se que 38 milhões de animais sejam retirados da natureza ilegalmente no país todos os anos, segundo a Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres).