A pandemia do novo coronavírus não é a primeira e, infelizmente, não será a última a afetar nos afetar. A transmissão de vírus e doenças naturais de animais silvestres para organismos humanos demonstra o desequilíbrio em que os sistemas de produção e consumo estão desalinhados à harmonia natural do planeta.
Tanto que as medidas de isolamento social adotadas ao longo de 2020 pelo mundo trouxeram efeitos imediatos e benéficos ao meio ambiente com a diminuição de poluentes do ar e das águas. Muitos desses fenômenos puderam ser observados a olho nu, como as águas mais limpas e cristalinas dos Canais de Veneza, na Itália, ou o horizonte menos poluído na Índia que permitiu a visão de montanhas da Cordilheira do Himalaia antes encobertas por uma espessa e cinzenta camada de poluição.
Ainda assim, os impactos ambientais decorrentes das atividades humanas já eram alarmantes antes da crise sanitária causada pelos milhões de infectados pelo Sars-CoV-2 e de vítimas fatais da covid-19 em todo o planeta.
O mundo está se transformando em um grande depósito de lixo que não se degrada naturalmente na natureza. Ou seja: o lixo não desaparece. Cada pedaço de resíduo sólido plástico já produzido em escala industrial no mundo (desde o século XX) ainda existe. Se esta informação não fosse assustadora o suficiente, quase 1 milhão de novas garrafas plásticas são consumidas por minuto no mundo e, se esse ritmo se manter, em três décadas teremos mais plásticos (em peso) do que peixes no oceano.
De acordo com um dos mais completos estudos científicos sobre o consumo e descarte do plástico, realizado pela Universidade da Califórnia e publicado na Science Advances em 2017, 1950 o mundo produziu 8,9 bilhões de toneladas de plástico. Destas, 2,6 bilhões permanecem em uso (29%), e 6,3 bilhões de toneladas de lixo plástico foram simplesmente descartadas, ou seja: 79% de resíduos sólidos plásticos sem utilidade ainda existem e apenas 600 milhões de toneladas foram recicladas. O mesmo estudo estima que 4,9 bilhões de toneladas de lixo plástico estão neste momento em aterros sanitários ou depositados na natureza.
E, infelizmente, o plástico é apenas um de muitos resíduos sólidos gerados pelas atividades econômicas e pelo consumo humano.
Como transformar essa realidade perigosa?
O Brasil possui uma legislação moderna referente ao consumo, diminuição da geração e tratamento dos resíduos no país. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) regulamenta as responsabilidades da sociedade, empresas e poderes públicos quanto a vida útil dos produtos na cadeia de fabricação e consumo e precisa, de fato, sair do papel.
Como cidadão, cabe a reflexão individual de o que é realmente necessário consumir, como o fazer e posteriormente minimizar o impacto do lixo gerado no cotidiano. Diminuir a demanda por plásticos, economizar água e energia, dar preferência às embalagens e produtos biodegradáveis são ações que podem começar a ser tomadas de imediatos nas residências.
"Já as empresas precisam adotar sistemas de gerenciamento de resíduos sólidos mais inteligentes, capazes de otimizar sua produção diminuindo demandas por energia e matérias-primas e, principalmente, destinando adequadamente e até de maneira rentável as sobras e resíduos descartados no processo", esclarece Guilherme Gusman, sócio da VG Resíduos, startup que desenvolve softwares e soluções para gerenciamento de resíduos empresariais e industriais e que opera um Mercado de Resíduos.
Nele, as empresas geradoras podem anunciar seus materiais descartados em uma espécie de leilão movimentado por tratadores homologados.
Consumo consciente: Reduzir, Reutilizar e Reciclar
Conhecidos como 3R, a proposta Redução, Reutilização e Reciclagem compõem as três medidas mais primárias do consumo consciente e merece atenção para que cada indivíduo possa ser um agente na transformação dos impactos ambientais causados ao planeta.
Reduzir: consumir menos, considerando o que realmente é necessário ou indispensável para o dia a dia. Avaliar se os produtos consumidos também são duráveis e têm uma vida útil maior do que outras opções disponíveis no mercado.
Reutilizar: usar novamente uma embalagem ou produto para o mesmo fim ou funções diferentes.
Por exemplo, priorizar embalagens retornáveis, transformar embalagens plásticas em embalagens de armazenamento de alimentos ou outros itens da casa e usar esses itens até quanto o possível antes que eles se transformem em novos resíduos sólidos para descarte.
Reciclar: é a transformação de um material sem utilidade em matéria-prima para novos itens, sem a necessidade de retirar mais recursos da natureza; Materiais como papel, plástico, vidro e alumínio podem ser encaminhados a cooperativas de reciclagem ou catadores autônomos para receber o tratamento adequado e voltar ao ciclo produtivo.