A escalada de tensões entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos começa a expor diferenças na condução da resolução do conflito. Declarações de dirigentes e representantes de países mostram um posicionamento pro-diplomacia e outro mais severo com mais pressões e sanções.
Entre os que defendem a pressão, os aliados Coreia do Sul, Estados Unidos e o Japão. Perante a Organização das Nações Unidas (ONU), a representante dos EUA, embaixadora Nikki Haley, pediu novas sanções e disse que a paciência dos Estados Unidos não é "ilimitada", ao mencionar que o país não descarta uma ameaça militar.
Hoje (5), o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Sigmar Gabriel, disse que o mundo está diante de uma grande ameaça, e que se a Coreia do Norte prevalecer, outros países também vão começar a adquirir armas nucleares.
"Não podemos deixar que se crie um precedente. Por isso, precisamos urgentemente aumentar a pressão sobre a Coreia do Norte, para tentar negociar depois a fim de desarmar o país", disse em Berlim, Alemanha.
Até agora, a pressão do Conselho de Segurança das Nações Unidas não fez com que o líder norte-coreano Kim Jong Un retrocedesse. Ao contrário, este ano ele realizou 14 testes de lançamento de mísseis balísticos e há uma semana um deles invadiu o espaço aéreo do Japão antes de cair no mar.
E com a suposta bomba de hidrogênio testada no domingo (3), a Coréia do Norte teria experimentado pela sexta vez uma bomba nuclear, em 11 anos.
Mais ameaças
Com o pedido de mais sanções na ONU, o governo norte-coreano voltou a fazer ameaças. Hoje, o embaixador do país na representação das Nações Unidas em Genebra, Han Tae Song, disse que o teste com a suposta bomba de hidrogênio no domingo foi bem sucedido, mas "foi só uma amostra".
"As medidas recentes do meu país são um pacote de presente endereçado aos Estados Unidos por causa das provocações imprudentes e tentativas inúteis de exercer pressão sobre a Coreia do Norte", afirmou Han Tae durante um encontro sobre desarmamento.
O chanceler da França, Jean-Yves Le Drian, disse, em Paris, que os países integrantes do Conselho de Segurança acreditam que a Coreia do Norte ainda não consiga lançar um míssil que alcance a Europa e os Estados Unidos. "Mas eles já podem atingir os vizinhos, o Japão, a China...", afirmou.
Ele disse, entretanto, que a Coreia do Norte poderia conseguir lançar uma bomba nuclear para atingir a Europa em poucos meses. O ministro frisou que, embora a França tenha votado a favor das sanções contra a Coreia do Norte há um mês, é preciso encontrar um caminho para as negociações.
Já o presidente da Rússia Vladmir Putin também afirmou, em um artigo publicado no site do Kremilin, que pressionar "Pyongang é um erro!". Ele defendeu o diálogo para a resolução do conflito.
Assim, a Rússia se aproxima do posicionamento da China, que reiteradas vezes defendeu a negociação pela via diplomática como a única via possível para a resolver o problema.
O porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês, Geng Shuang, disse que para solucionar o conflito "a força militar nunca é uma opção e que as sanções por si só não oferecem uma saída".
Ele afirmou que a China defende que sejam retomadas as negociações e espera que todas as partes evitem uma escalada da tensão.
Pior que Irã
O alerta sobre a real ameaça representada pela Coreia do Norte foi lançada segunda-feira (4) pelo diretor da Agência Internacional de Energia Atômica Nuclear, Yokiya Amano.
Ele afirmou que o país representa uma ameaça global e disse que a Coreia se comporta de maneira diferente e mais "difícil" que o Irã, por exemplo.
"A situação na Coreia do Norte é muito pior [do que no Irã]...Nós pensamos que esta é uma ameaça global. No passado, muitas pessoas acreditavam que essa era uma ameaça regional no noroeste do Pacífico ou nordeste da Ásia, mas é claro que agora é uma ameaça global", disse o diretor da agência. Amano comparou os dois países e argumentou porque o problema da Coreia é pior.
"Eles se retiraram do Tratado de Não Proliferação de armas nucleares, expulsaram todos os inspetores da agência do país, estão desenvolvendo armas nucleares, mantêm testes de lançamento de mísseis e ameaçaram países", explicou.
A seguir, ponderou que o país fez tudo isso apesar da existência de resoluções do Conselho de Segurança. "Tudo o que estão fazendo é contra as regras. Isso deve ser corrigido, mas sem mudar a abordagem, talvez seja difícil", finalizou.