O skate, esporte que conquistou o mundo com sua liberdade e manobras radicais, sempre foi movido pela paixão de seus praticantes. Essa paixão, inclusive, levou ao surgimento de marcas emblemáticas, como a brasileira que fabrica os tênis Hocks, criada por skatistas que entendiam as necessidades e o espírito do esporte. Agora, essa mesma paixão se encontra em meio a uma grande discussão.
A World Skate (organização que manda no skate mundial) decidiu que terá idade mínima para competir em eventos internacionais importantes, incluindo as Olimpíadas. Essa regra começou a valer em 2025 e ficará mais alta a cada ano, até chegar aos 14 anos para os Jogos de Los Angeles, em 2028. Essa mudança mexeu com o mundo do skate, que sempre viu o esporte como um lugar onde o talento jovem tem muito espaço.
A nova regra
A ideia da World Skate é colocar uma idade mínima para quem quiser competir nas grandes ligas do skate. A regra começou assim:
2025: Quem quiser competir precisa ter no mínimo 11 anos.
2026: A idade sobe para 12 anos.
2027: Mais um ano e a idade mínima será de 13 anos.
2028 em diante (Olimpíadas de Los Angeles): Para participar, o skatista terá que ter 14 anos ou mais.
É importante entender que essa idade mínima vale para o ano em que a competição acontece. Se o aniversário do atleta for em dezembro, mas ele completar a idade mínima naquele ano, ele pode competir. O problema é que, a partir de abril de 2025, quem não tiver a idade certa para aquele ano vai sair do ranking oficial da World Skate, o que complica muito a chance de ir para as Olimpíadas.
Essa regra não vale para todos os campeonatos de skate. Eventos como o STU (Skate Total Urbe) aqui no Brasil e a Street League Skateboarding (SLS) não precisam seguir essa idade mínima. Mas para quem sonha com as Olimpíadas, a coisa mudou bastante.
Por que tanta polêmica? O skate sempre acolheu os jovens
O skate sempre foi um esporte diferente. Nas pistas e nas ruas, a idade nunca foi um grande problema para quem tinha talento. Vimos muitos garotos e garotas novinhos mostrando um skate de gente grande e até ganhando medalhas importantes. A decisão da World Skate pegou muita gente de surpresa.
Um exemplo é o da Rayssa Leal. Com apenas 13 anos, a Fadinha do Skate brilhou nas Olimpíadas de Tóquio em 2020 e trouxe para o Brasil uma medalha de prata no street. Ela se tornou a atleta mais jovem do Brasil a subir no pódio olímpico. Se a regra dos 14 anos já estivesse valendo naquela época, a Rayssa nem teria podido competir.
Outra skatista que fez história muito jovem foi a japonesa Momiji Nishiya. Ela também tinha 13 anos quando ganhou a medalha de ouro no street feminino em Tóquio. Assim como a Rayssa, ela não teria podido participar se a regra atual já estivesse em vigor. Além delas, outros jovens como a australiana Arisa Trew (ouro em Paris 2024 com 14 anos) e a britânica Sky Brown (prata em Tóquio 2020 com 13 anos) também se destacaram muito cedo. Esses exemplos mostram como o skate olímpico pode perder grandes talentos por causa dessa barreira da idade.
O mistério por trás da mudança: a falta de clareza da World Skate
A World Skate não divulgou os motivos específicos que levaram à decisão de implementar a idade mínima, o que deixou uma lacuna de entendimento e alimentou ainda mais a polêmica. A ausência de uma justificativa oficial clara abriu espaço para diversas interpretações e especulações entre skatistas, treinadores e fãs.
Alguns cogitam que essa medida possa estar relacionada a preocupações com o bem-estar e o desenvolvimento a longo prazo de atletas muito jovens, considerando a intensidade da competição de alto nível e a pressão midiática que a acompanha. Outra possível interpretação seria uma tentativa de alinhar o skate com as normas de idade de outros esportes olímpicos, buscando uma maior padronização dentro do Comitê Olímpico Internacional (COI). Questões de segurança nas competições de elite também podem ter influenciado a decisão, visando garantir que todos os participantes possuam um nível adequado de maturidade física e técnica para lidar com os riscos envolvidos.
Sem uma comunicação oficial detalhada por parte da World Skate, essas permanecem apenas suposições. A falta de transparência em relação aos reais motivos da mudança contribui para o debate acalorado e para o sentimento de que uma decisão tão impactante para o futuro do skate olímpico foi tomada sem uma justificativa convincente para a comunidade.
Como a regra afeta o skate?
Essa nova regra pode ter vários impactos na comunidade do skate:
Imagine um menino ou uma menina de 11, 12 ou 13 anos que já manda muito no skate e sonha com as Olimpíadas. De repente, eles descobrem que vão ter que esperar mais tempo para tentar realizar esse sonho. Isso pode ser muito frustrante e até desmotivar alguns.
Por outro lado, essa regra pode fazer com que os skatistas e seus treinadores foquem mais nas categorias de base e nos eventos para atletas mais jovens, como os Jogos Olímpicos da Juventude e os Jogos Pan-Americanos Júnior, que terão uma idade mínima de 12 anos a partir de 2026.
O fato de a regra não valer para eventos como o STU e a SLS pode criar uma certa divisão no mundo do skate, com alguns campeonatos seguindo uma regra e outros não, o que pode confundir atletas e fãs.
A exclusão de atletas abaixo da idade mínima do ranking da World Skate dificulta a participação desses jovens em eventos futuros, mesmo que eles venham a atingir a idade mínima nos anos seguintes, pois terão que recomeçar a acumular pontos.
Los Angeles 2028
A Olimpíada de Los Angeles em 2028 será a primeira a ter essa regra de 14 anos valendo. Isso significa que muitos jovens talentos que hoje estão despontando podem não ter a chance de competir se não tiverem a idade mínima. Veremos uma nova geração de skatistas chegando aos Jogos Olímpicos, talvez um pouco mais velhos do que vimos em Tóquio e Paris.
Resta saber se essa mudança vai alterar a dinâmica e o espírito do skate nas Olimpíadas. O skate sempre foi sobre quebrar barreiras e mostrar que talento não tem idade. Essa nova regra coloca uma barreira onde antes não havia, e a comunidade do skate ainda está tentando entender o que isso significa para o futuro do esporte nas Olimpíadas. Uma coisa é certa: a polêmica está longe de acabar. O skate, com sua natureza livre e contestadora, terá muito o que dizer sobre essa nova tentativa de colocar limites onde, para muitos, eles nunca deveriam existir.