Um estudo realizado pelo Sincovat (Sindicato do Comércio Varejista de Taubaté e região), com base nos dados da Federação do Comercio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), revela que o varejo da RM Vale, considerado não essencial, faturava, em dias normais, cerca de R$ 50 milhões por dia.
No entanto, desde o dia24 de março, o governador João Doria (PSDB) decretou o isolamento social como medida para evitar a propagação do Coronavírus. O comércio em geral foi obrigado a fechar o atendimento em todo o Estado, mantendo somente o funcionamento dos serviços essenciais, como saúde, alimentação e segurança.
Muitos lojistas estão tentando minimizar as perdas, oferecendo serviços pelas redes sociais e delivery. No entanto, o estabelecimento fechado ao atendimento presencial dos clientes está causando, além das perdas, uma grande ansiedade nos empresários.
Mais um capítulo dessa ansiedade foi transposto na última semana quando o Governo do Estado anunciou o Plano São Paulo, projeto onde estará calcada a flexibilização do fechamento dos estabelecimentos e que deve ser aplicado a partir do dia onze de maio. Mesmo com a anúncio da data, o que se sabe apenas é que o retorno será faseado, setorizado e regionalizado.
Independentemente do que o plano trará, a flexibilização da quarentena, quando possível e respeitando os protocolos de saúde, irá representar o início de normalização das atividades e ponto de partida de boa parte da retomada econômica no estado, principalmente aos setores de comércio e serviços não essenciais. A despeito dessa realidade, o que os empresários varejistas podem esperar das características do consumo e do desempenho do setor pós quarentena?
Desde o início do processo pandêmico do Covid-19, o Sincovat alerta que essa é uma crise sem precedentes e, por isso, sem horizontes. Mas sendo uma crise econômica, além de ser prioritariamente de saúde humana, ela traz movimentos comuns a outros momentos de fortes recuos da atividade. No âmbito macroeconômico pode-se esperar forte queda do PIB brasileiro, algo por volta dos 5% em 2020. A taxa de desemprego pode saltar acima dos 16% e veremos avanço do endividamento das famílias, bem como de sua inadimplência.
O cenário acima já diz muito o que o varejo pode esperar. A redução do consumo, já sentida de forma muito aguda, deve se amenizar com tempo, mas continuará latente aos próximos meses. A deterioração dos determinantes do poder de compra das famílias trará o velho direcionamento da renda existente para atividades de mercadorias essenciais (gêneros alimentícios, higiene, medicamentos, etc). Outro movimento esperado são as idas mais pontuais e planejadas do consumidor ao comércio, bem como sua busca mais ativa por promoções e parcelamentos.
Esta realidade traz desafios evidentes principalmente ao varejo não essencial. Seja o de não-duráveis, seja aquele que comercializa produtos de maior valor agregado e, por isso, necessita de crédito para aquisição. O primeiro caso exemplificamos pelo varejo de vestuário. O segundo o de bens duráveis e semiduráveis, como móveis, eletrodomésticos e automóveis, entre outros.
Da porta da loja para fora, é hora de planejamento calcado em extensão de tipo de atendimento, utilização profissional de redes sociais, criatividade em campanhas e promoções, bem como a busca por identidade mais moderna da marca e apresentação das mercadorias. Do balcão para dentro, será mais um capítulo da busca por maior produtividade. Novamente intensificaremos o pragmatismo para avaliar o quadro de trabalhadores, o fôlego diário do caixa, os estoques mais baixos para evitar alta imobilização de recurso, e falta de liquidez em capital de giro, e a difícil, mas necessária tarefa de negociar com fornecedores, bem como credores.
Independente do que for mais difícil de se aplicar ou não no negócio, destacamos que a alma da empresa está no seu caixa. Ele se manter positivo com o cuidado máximo dos prazos de pagamento, de estoque e venda é que dará o tom da subsistência da empresa, para honrar compromissos com os funcionários, com fornecedores, tributos e demais credores. No restante, somente um foco de profissionalização da gestão empresarial trará eficiência. E, como em todas as crises, o mais eficiente tem maior chance de sobreviver, de avançar e, quem diria, no médio prazo até mesmo crescer.