Saúde mental, uma parceira fundamental na quarentena

A quarentena mudou hábitos e não seria diferente para médicos-veterinários e zootecnistas


Enquanto o funcionamento de clínicas de pequenos animais é considerado serviço essencial e médicos-veterinários são reconhecidos como profissionais da linha de frente na emergência de saúde pública, muitos zootecnistas trocaram o pé na terra e o contato diário com o campo por plataformas on-line para realizar reuniões, videoconferências e atendimentos remotos. Aulas teóricas on-line, permitidas temporariamente pelo Ministério da Educação, e a suspensão das atividades práticas desafiam estudantes.

Um momento de luto coletivo por perdas simbólicas, como a da liberdade de ir e vir. Assim o psicólogo clínico Carlos Aragão define a quarentena. Doutor em Psicologia Clínica e Cultura, pela UnB, ele diz que não adianta negar a existência e letalidade do vírus, pois isso tem consequências. "Existe uma realidade e precisamos lidar com ela da melhor forma", esclarece.

No entanto, destaca Aragão, há pessoas com maior ou menor repertório para enfrentar a situação. Quem já tem uma vulnerabilidade psicológica fica com a saúde mental mais abalada, pois impotência e incerteza geram muita dor psicológica. "Se pensarmos bem, a vida é imprevisível e impermanente. Isso agora se apresenta com intensidade maior e de forma mais potente em pessoas vulneráveis, gerando uma angústia que pode paralisar, em vez de proteger. O problema não é o problema em si, mas a forma como se lida com ele", resume.

Resilência: crise e oportunidade

Quem se adapta a novas situações levará vantagem, sejam zootecnistas atendendo de forma remota e reorganizando a rotina, médicos-veterinários reforçando medidas de higiene e precauções, criando formas seguras para atender em clínicas e hospitais, ou estudantes sem aula presencial. Nas vigilâncias sanitárias e atividades de produção animal, os cuidados são redobrados, criando novos parâmetros.

Por outro lado, o psicólogo lembra que a adversidade é uma mola propulsora da criatividade. "Estamos saindo da zona de conforto e nem todos sabem lidar com mudanças. O momento adverso nos obriga a ser mais resilientes e nos reinventarmos. Que bom seria se todos vissem isso como oportunidade de evolução pessoal, profissional e emocional", assinala Aragão.

O médico-veterinário Rodrigo Rabelo acredita que houve muita insegurança entre os profissionais, nos primeiros dias, até que estados permitissem oficialmente o funcionamento das clínicas veterinárias, mas agora percebe os colegas mais tranquilos. Pessoalmente, aproveitou a quebra na rotina para pôr em prática projetos que estavam em segundo plano, por falta de tempo. "Um deles é a plataforma de educação continuada on-line para profissionais, que já começou a rodar", conta.

Um aspecto para o qual os três alertam é o cuidado em relação ao excesso de informações. Rabelo diz que é obrigação do profissional seguir recomendações técnicas baseadas em evidências. "Não se pode é ficar preso a reporte de casos como de gatos e tigres que testaram positivo, gerando pânico, nem entrar na onda de testar animal. Tem que ter cuidado e buscar informação oficial, evitando ficar bitolado e preso demais a telas", observa.

Tudo passa

- Busque o que e quem te faça bem. Higiene mental, assim como a do corpo, ajuda a superar o momento com serenidade. Mantenha contato com as pessoas mais importantes da sua vida.

- Exercite-se em casa, pois atividade física ajuda a liberar os hormônios do bem-estar. Evite o consumo excessivo de álcool, que prejudica o sistema nervoso central.

- Mantenha os tratamentos de saúde que já vinha fazendo e não se automedique.

- Para quem tem algum tipo de fé, é hora de, sem extremismos, reforçar os laços com o sagrado, o é uma forma de manter a esperança.

- Aprimore a escuta. Se perceber que você ou alguém do seu entorno está em sofrimento, sem ânimo, melancólico, busque ajuda. Saber a hora de pedir auxílio é sinal de inteligência.

- Entenda a importância da sua profissão, dos animais e da sua função social e responsabilidade para evitar que sejam maltratados ou abandonados.

- Faça o bem para alguém, envolva-se em campanhas solidárias, ajude um vizinho idoso. Isso é um fator de proteção para você também.

- Médicos-veterinários são profissionais da linha de frente na atenção à saúde, precisam ajudar a população a manter a calma e a tomar decisões corretas.

- Zootecnistas têm papel preponderante para que o campo siga produzindo alimentos e na manutenção da segurança alimentar da população.