Ana e Vitória explodiram com o jeito fofo de cantar o amor, com uma sonoridade acústica, com as vozes quase sempre embaladas pelo violão de Ana. Saíram da pequena cidade de Araguaína, no Tocantins, e conquistaram o Brasil.
Dois anos depois, os vestidos longos e fluidos deram lugar às camisetas de gola alta, o colorido deu lugar ao preto e branco, e o tímido violão perdeu espaço para guitarras, bateria e teclado. O amor inocente amadureceu e as letras mostram um sentimento menos idealizado e mais real, com altos e baixos. O trabalho todo de Anavitória ganhou mais camadas e profundidade e isso pode ser comprovado no disco O Tempo É Agora, lançado de surpresa no início de agosto.
Gravado em Los Angeles, o álbum contou com participação de nomes de peso: Tim Pearce (Michael Jackson, Avril Lavigne, Madonna, Bon Jovi, Santana, Céline Dion, Bruce Springsteen e Elton John) nas guitarras; e Sean Hurley (John Mayer, Lana Del Rey, Lady Antebellum, Michael Bublé, Leonard Cohen, Alanis Morissette, Alicia Keys) nos baixos; Jamie Wollam (Tears For Fears) na bateria; enquanto o teclado ficou sob responsabilidade de Roberto Pollo, músico brasileiro radicado em LA. Importante lembrar que o primeiro disco do duo, autointitulado, foi gravado com ajuda de crowdfunding. Um salto e tanto.
Ana e Vitória conversaram com a Billboard Brasil sobre a nova fase na carreira, a ansiedade que ronda o segundo disco e amadurecimento:
Na nossa última entrevista, no mês passado, no lançamento do filme, vocês fizeram mistério sobre a possibilidade de lançamento da trilha ou de novo projeto musical. Como planejaram isso e como foi a recepção dos fãs?
Vitória: Foi muito difícil saber de tudo e ter que segurar por tanto tempo. Já existia uma cobrança dos fãs por música nova e tínhamos que enrolar falando do filme, não podia falar do disco. Foi muito massa. Teve ansiedade sim, mas foi muito legal esperar pelo momento certo, lançar os dois projetos juntos, com todo o significado. Para o fã foi lindo também. A ansiedade por novidades cessou um pouco com o anúncio do filme e, quando o disco chegou de surpresa, foi uma felicidade. Estamos muito felizes.
O segundo disco costuma ser temido pelas expectativas de superar o anterior, ainda mais no caso de vocês que já explodiram de início. Como foi lidar com esses sentimentos de ansiedade, pressão e expectativa?
Ana: Acho que não levamos em conta, em nenhum momento, a pressão de superar alguma expectativa, levamos tudo no nosso tempo, considerando o nosso momento, o nosso jeito. A gente já gostava muito do disco antes de ele existir, foi um resultado muito bonito. O projeto conversa com o primeiro disco, com a nossa fase nova também. Ficar na zona de conforto não seria interessante, era continuar no jogo ganho e a gente gosta de experimentar, fazem parceria com pessoas diferentes. Gostamos de ir pro estúdio e ver no que vai dar.
Vitória: Foi uma quebra de paradigma muito grande, esse disco é a consolidação da certeza de que estamos no lugar certo. É construir um caminho.
Ana: Parece que agora é diferente, estávamos falando disso esses dias. Com o primeiro disco parece que aconteceu tudo muito ligeiro, não tivemos tempo de assimilar, de repente a música tocava na rádio, as pessoas cantavam nos shows. Estava tudo bem, tudo lindo, mas não paramos para pensar na dimensão. Agora no segundo, com a transição delicada, é diferente. A gente ouve e entende que está tocando na rádio, assimilamos. Cantamos as músicas em um programa de televisão, as pessoas já cantaram junto. Tudo tem proporção diferente, pudemos ter a certeza de que estamos fazendo certo.
Esse disco inclui mais camadas e instrumentos do que o anterior. De onde partiu essa vontade e como foi o processo? "A Gente Junto" é tudo que não se imaginava vindo de vocês, em questões sonoras, e é um destaque do álbum.
Ana: Nem a gente imaginava! [risos]
Vitória: Veio de uma ânsia de show, descobrimos o que queríamos fazer nos dois anos de turnê pelo Brasil, experimentando, entendendo o que a gente queria de som. A gente tinha o pensamento de querer que o som chegasse de tal forma. No primeiro disco, existia um flow muito grande porque a gente já tinha mostrado coisas no EP e o disco veio contar uma história que já tinha começado. Era mais fluido naquele momento, o violão era a base maior para o disco, as músicas passeiam por esse instrumento. Havia a limitação de não ter os instrumentos, então foi o mais acústico possível. No segundo disco teve o desafio de fugir do mesmo lugar, de experimentar coisas novas. E nesse segundo momento foi o contrário. A gente arriscou a guitarra, a bateria. Nós queríamos um show grande, com músicas fortes. Tentamos um outro caminho e procuramos bases e sons diferentes.
No primeiro disco, vocês definiam seu estilo musical como "Pop Rural". E agora? Como poderiam definir a sonoridade de Anavitória com o novo disco?
Ana: Na verdade, a gente só definiu que era "Pop Rural" pela necessidade de nomear. Para a gente era música. Fizemos música com o Projota sendo uma dupla de "Pop Rural", sabe? Ficar buscando sempre um nome não diz muito, se não no próximo disco vamos fazer algo diferente e ter que procurar outro nome. É só Anavitória querendo fazer o que elas querem fazer [risos].
Vitória: Isso vem muito porque antes havia a necessidade de nomear as coisas, um rótulo que não é só musical, mas de estilo. Usando como exemplo o punk. Quem era, ouvia só punk, se vestia de uma forma, saía com quem também era daquele jeito. A gente é de uma geração que pode buscar tudo o que quiser escutar. E isso modifica, transforma. O que você constrói é diferente. A geração de novos artistas passeia por muitos lugares porque ouve de tudo.
Boa parte das músicas fazem parte do filme, mas no disco ganharam novas versões, ou seja, não se trata da trilha sonora exata. Pretendem lançar as músicas nas versões do filme também?
Ana: Já foi conversado, mas não sabemos se vai acontecer ou se não vai. Vamos descobrir juntos.