Cidade holandesa do Rio Grande do Sul se inspira na paulista Holambra

Produção de flores no sul do país também é legatária da herança dos imigrantes holandeses


As pequenas cidades de imigração holandesa, localizadas na região próxima à Porto Alegre, buscam atualmente seguir os passos de suas irmãs, no Sudeste, lideradas pela cidade de Holambra, próxima à Campinas, conhecida como a capital das flores da América Latina.

A região em que se localiza a cidade de Holambra é considerada o maior polo de produção de flores do Brasil em termos de valor de mercado. A cidade, colonizada pelos holandeses que chegaram à região no final dos anos 1940, começou o cultivo de flores nos anos 1960, no lugar dos antigos cultivos de grãos e da agropecuária. E, na medida em que foi adquirindo proeminência nesse ramo, foi difundindo esse cultivo aos municípios vizinhos, transferindo o conhecimento e a tradição dos holandeses aos agricultores não descendentes.

Nos dias atuais, a Holanda é uma referência mundial na produção, compra e distribuição de flores e plantas ornamentais. Não sendo de se estranhar, portanto, que Holambra (nome que constitui a síntese de uma junção das palavras América, Holanda e Brasil) seja, justamente, o principal polo brasileiro nesse ramo de negócios.  

No entanto, não é mais a nossa única referência em termos de cultivo de flores no país. Outro estado que não fica atrás, quando se trata da imigração holandesa, é o Rio Grande do Sul. Inclusive, algumas regiões de produção de flores do estado já começaram a ser apelidadas de “Holanda brasileira”. De acordo com os dados disponibilizados pelo   Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), o estado concentrava, em 2014, cerca de 18% dos produtores de flores do país. E, no ano seguinte, já era considerado o quarto maior produtor, perdendo apenas para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, respectivamente.

Entre as cidades do Rio Grande do Sul de imigração holandesa a afirmarem essa tradição, buscando unir, assim como em Holambra, a produção e comercialização de flores ao turismo, encontramos Não-Me-Toque, próximo à Porto Alegre. Conhecido como Colônia de Refúgio, conforme indica a antropóloga Renate Stapelbroek, que acaba de finalizar uma pesquisa sobre a imigração holandesa no país, o pequeno município de 16 mil habitantes recebeu os holandeses na mesma época que chegaram à Holambra, em São Paulo.

Ao chegarem, a cidade já era habitada por imigrantes alemães e italianos que haviam imigrado no começo do século. No entanto, a imigração holandesa foi um divisor de águas em sua história. Após adquirirem as terras desgastadas dos alemães, estabeleceram modernas empresas agrícolas. E, além da produção de soja e trigo, passaram a se dedicar à produção de flores. Atualmente, é possível perceber – na arquitetura, atividades econômicas e modos de vida de Não-Me-Toque – a influência holandesa marcante, brindando o turista que passa por ali com o que há de melhor dessa cultura, em sua mistura com as cores, sabores e ritmos do Brasil.     

A região de Porto Alegre, na qual se localiza Não-Me-Toque, é líder no estado em termos de consumo e produção de flores e plantas ornamentais. De acordo com o “Mapeamento e quantificação da cadeia de flores e plantas ornamentais no Brasil”, elaborado por uma série de entidades do setor e lançado em 2015[1], o Rio Grande do Sul encontra-se acima da média nacional, em termos de consumo, graças a essas regiões! Alcançou, a despeito dos números relativamente reduzidos em termos de tamanho e população, o terceiro lugar no ranking dos consumidores, atrás apenas de São Paulo e Distrito Federal, respectivamente.

Certamente, as floriculturas de Porto Alegre e região têm um importante papel nesses resultados. De acordo com o Mapeamento, mencionado acima, esses estabelecimentos constituem o principal canal especializado de comercialização desses produtos no país, responsáveis por um faturamento que chegou a mais de R$ 900 milhões em 2014 graças ao acréscimo gradativo de serviços à venda de flores. Dessa forma, as flores passam a ser vendidas junto com outros itens, tais como vasos decorados, arranjos florais, caixas de chocolate etc.

Outra inovação nesse segmento do comércio são os serviços de vendas online, considerados extremamente promissores pelos especialistas por permitirem uma melhor adequação entre oferta e demanda. Em algumas cidades, as vendas online reúnem um conjunto de floriculturas espalhadas pela cidade, o que permite um atendimento rápido dos pedidos, ampliando o mercado consumidor de flores.   

Nesse sentido, as floriculturas de Porto Alegre são um exemplo paradigmático! Em sites como o da Isabela Flores, é possível adquirir arranjos, flores e plantas ornamentais diversos para entregas, em até três horas, na capital. O site também permite a compra para entrega nas cidades de Novo Hamburgo, Canoas e São Leopoldo. Tudo isso devido ao estabelecimento de parcerias entre as floriculturas da região.

Iniciativas inovadoras como essas, aliadas à tradição holandesa, nos ajudam a entender o alto consumo de flores no estado e o seu potencial de crescimento no futuro!