O engenheiro e empresário Joel de Oliveira Junior, 48, decidiu ajudar a salvar vidas de crianças e adolescentes que estão na luta contra o câncer depois que ele mesmo perdeu um filho para a doença.
Morador de São José dos Campos (SP), na região do Vale do Paraíba, ele desenvolveu um dispositivo em formato de curativo que monitora on-line e envia alertas sobre o estado de saúde dos pacientes.
O recurso transmite aos médicos as informações necessárias a tempo de combater possíveis intercorrências, assim como evitar a evolução para quadros mais graves. "O objetivo é oferecer uma solução simples e acessível para garantir o bem-estar e afastar riscos durante o tratamento de câncer em crianças e adolescentes", esclarece Joel.
O dispositivo é equipado com sensores, bateria, antenas e circuitos. Com a aparência de um curativo - o que é proposital --, ele funciona colado no corpo da criança. Em princípio, a solução irá medir a temperatura e os batimentos cardíacos.
Segundo Joel, os dados coletados são armazenados na nuvem, ficando disponíveis para os pais por meio de um aplicativo móvel e também para o hospital - informando a equipe médica que acompanha o tratamento. "Isto é uma parte do serviço. A outra parte é a inteligência artificial que está em desenvolvimento para ajudar a diminuir a taxa de mortalidade das crianças em tratamento de câncer", ressalta.
O engenheiro começou a desenvolver o projeto há dois anos, depois de perder para o câncer seu filho, Lucas, aos dois anos e meio de idade. O tratamento durou cerca de um ano e meio desde a descoberta da doença. O inventor sabe bem como esse processo pode ser desgastante para os pais. "Esse conforto para os pais da criança é impagável. Com a solução que estamos desenvolvendo, os pais saberão que há mais alguém além deles olhando para a criança e cuidando dela", afirma.
O dispositivo já está sendo preparado para ser testado gratuitamente em 100 crianças e adolescentes que passam por tratamento contra o câncer no hospital do GACC (Grupo de Assistência à Criança com Câncer), em São José dos Campos.
O local, que atende cerca 500 crianças com a doença, conta com uma central que realiza esse acompanhamento e recebe alertas quando os pacientes apresentam alteração na temperatura - o que pode indicar uma infecção. Assim que for validada nos testes, a etapa seguinte é aplicar em outros hospitais no Brasil e no mundo e solicitar a sua aprovação junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Especialistas alertam que é importante considerar que nem sempre a criança com câncer atinge um nível febril - chegando a uma temperatura corporal de 37 ºC. A hipotermia, ou a queda da temperatura, também pode ser um sinal de infecção grave. Com a indicação de quando há variações de temperatura, o dispositivo desenvolvido por Joel ajuda a equipe médica a determinar o momento ideal para uma ação.
Com as informações coletadas, o hospital pode recomendar com mais assertividade o início de algum tratamento, mesmo à distância. "Quanto mais rápido isto for feito, maior será a intensidade da proteção dada à criança que passa por tratamento, o que certamente diminuirá o índice de mortalidade desse grupo", avalia Marcelo Milone, oncologista pediátrico do hospital da GACC. "Quero desenvolver aqui no Brasil algo que seja fácil e relevante para as crianças. Isto me dá forças para seguir trabalhando no projeto, além de dar a outros pais a possibilidade de não sofrerem o que eu sofri. Isto me dá alegria", conclui o engenheiro.