Transplante de fígado: fila obedece grau de gravidade

Procedimento hepático ocupa o terceiro lugar na lista em termos de número de pessoas em espera, ficando atrás apenas das doações de rim e córnea.


O Brasil tem mais de 50 mil pacientes no aguardo para receber transplante de órgão ou tecidos, segundo o Ministério da Saúde. O transplante de fígado ocupa o terceiro lugar na lista em termos de número de pessoas em espera, ficando atrás apenas das doações de rim e córnea. A fila segue o grau de gravidade dos quadros, e tanto o paciente quanto o médico cirurgião geral responsável por cada caso devem seguir e respeitar a distribuição dos órgãos, que é feita por entidade estatal.

O transplante de fígado é indicado para pacientes com, por exemplo, cirrose hepática, doenças congênitas e Doença de Wilson. Pessoas com câncer de fígado e colangite esclerosante primária também podem ser indicadas para fazer o transplante como forma de tratamento.

O transplante hepático demora de cinco a oito horas, em média. O fígado doente é retirado por uma incisão no abdômen superior. Em seguida, o órgão do doador é inserido na cavidade, e os vasos sanguíneos são suturados.

A última etapa do transplante é reconstruir a via biliar, procedimento que pode ser feito com o ducto biliar do receptor ou com um segmento de intestino. Após a cirurgia geral, se não houver complicação clínica ou cirúrgica pós-operatória, os pacientes ficam de um a dois dias numa unidade de terapia intensiva. O tempo de internação hospitalar varia de uma a duas semanas.

Critérios para a lista de espera

Depois da queda das doações de órgãos em decorrência do período agudo da pandemia, o quantitativo de transplantes no Brasil começou a se recuperar. De janeiro a junho de 2022, foram doados 3.677 órgãos no país, sendo 1.007 fígados. Os dados são do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), divulgado pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).

No Brasil, o critério de espera na lista para transplante respeita um índice de gravidade da doença, conhecido como MELD (Model for End-Stage Liver Disease). Esse parâmetro corresponde a um valor numérico que varia de 6 a 40, indicando quão urgente o paciente precisa do transplante. Assim, aqueles mais graves apresentam MELD mais elevados e são priorizados.

Semelhantemente ao MELD, crianças e adolescentes menores de 18 anos que sejam candidatos ao transplante são listados conforme o sistema PELD (Pediatric End-Stage Liver Disease). Os casos urgentes têm absoluta prioridade na lista e devem ser operados com urgência, pois a sua sobrevida é muito curta.

Além disso, a lista é organizada pela compatibilidade sanguínea entre receptor e doador - ou seja, existe uma fila de espera para cada tipo de sangue (A, AB, B e O).

Conhecendo em detalhes o MELD

O MELD é obtido através do cálculo das dosagens no sangue dos elementos bioquímicos bilirrubina, creatinina, sódio e o tempo de atividade da protrombina. Assim, quanto mais alto o valor do MELD, maior gravidade apresenta o estado do paciente. As informações foram publicadas pelo membro da ABTO, da Sociedade Internacional de Transplante de Fígado (ILTS) e da Sociedade de Transplantação (TTS), Fábio Silveira, em artigo para o Centro Digestivo e Transplante de Órgãos (CDTO).

Esse método de alocação e distribuição dos órgãos é a metodologia mais utilizada no mundo ocidental. Outros fatores que também podem influenciar a recepção de um órgão são a compatibilidade anatômica e a prevenção de doenças infecciosas do doador.

Cada estado brasileiro possui a sua própria lista de espera, e o local de realização do transplante é de livre escolha do paciente. Contudo, cada indivíduo só pode estar na lista de um estado.

Geralmente, o estado onde o transplante será realizado é escolhido conforme o local de residência do paciente, o acesso ao lugar de tratamento e o tempo de espera em lista. Além disso, vale lembrar que nem todos os estados têm o serviço de transplante. As unidades federativas possuem diferentes tempos médios de aguardo em lista, que variam conforme o tipo sanguíneo e a quantidade de doadores localizados.

O valor do MELD precisa ser renovado periodicamente, de acordo com a gravidade da doença. O paciente pode acompanhar a sua posição por meio do site do Sistema Nacional de Transplantes. Como destaca Flávio Silveira, a falta de atualização deste índice inativa o paciente na lista de espera.

Responsáveis pela organização do processo

A lista de espera para transplante de fígado é controlada pela Central Estadual de Transplantes, vinculada à Secretaria de Saúde de cada estado e subordinada ao Sistema Nacional de Transplantes, órgão do Ministério da Saúde, que regula a atividade transplantadora do país.

As centrais estaduais fiscalizam as atividades das instituições que realizam os transplantes, fazem a busca ativa dos órgãos de potenciais doadores e organizam os pacientes que receberão os órgãos doados.

Dessa maneira, é importante ressaltar que não é o médico ou a equipe que efetua o transplante que controla a distribuição dos órgãos, mas sim uma entidade estatal. Os pacientes que precisam de um transplante são inseridos em um sistema informatizado pelo grupo responsável pelo tratamento.