Acordo da Embraer com Boeing pode sair logo, mas não há garantia de empregos

Ministério Público do Trabalho vê risco de o governo federal aprovar o negócio antes das eleições deste ano, sem exigir garantias formais das fabricantes de manutenção de emprego e produção no Brasil


O Ministério Público do Trabalho acredita que o governo brasileiro pode aprovar o acordo entre Embraer e Boeing antes das eleições, ao contrário do que defendeu o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna.

De acordo com o procurador Rafael de Araújo Gomes, de Araraquara, o governo não decide quando irá receber a proposta, mesmo tendo uma ação especial (golden share) da Embraer que lhe permite vetar o negócio.

"As empresas podem apresentar antes e o governo terá 30 dias para aprovar ou vetar. O governo não tem poder de obrigar as empresas a apresentar depois das eleições", afirmou Gomes. "Imagino que empresas buscam mais rapidamente essa aprovação".

Ele esteve em São José dos Campos na última segunda-feira, na Câmara, em audiência pública sobre a negociação entre Embraer e Boeing.

Gomes e procuradores de São José são autores da ação civil pública que tenta obrigar o governo a exigir das duas fabricantes garantias formais de que os empregos e a produção de aviões da Embraer permanecerão no Brasil.

Risco

Com as informações divulgadas pelas companhias até agora, segundo Gomes, há risco de desmobilização no país.

"Reunimos muitos elementos [na ação], há muitos fatores de risco, e todos apontam que a Boeing não terá interesse em manter a produção de aviões no Brasil. Ela deve remeter a atividade para o exterior", apontou o procurador do Trabalho.

Segundo ele, em mais de 100 anos de história a Boeing nunca produziu aviões fora dos EUA. Além disso, Gomes vê a pressão do presidente Donald Trump em criar empregos em solo americano como prejudicial à Embraer.

"Se o governo brasileiro não fizer essa exigência [de garantir os empregos no Brasil], a Boeing possivelmente não irá fazer essa deferência ao país", disse. Gomes cita dois discursos de Trump dentro de fábricas da Boeing para corroborar sua opinião.

"Ele falou que não aceitará que empresas americanas produzam fora dos EUA, sem contratar americanos, para depois trazer a produção aos EUA. Ele disse que a empresa que fizer isso terá uma carga tributária altíssima".

Embraer confirma joint venture 'no Brasil'e afirma que vai ser 'centro de excelência'

A Embraer informa que a joint venture com a Boeing terá sede no Brasil e que se tornará "um dos centros de excelência da Boeing para design, fabricação e suporte completos de aeronaves de passageiros comerciais".

Em nota, a companhia diz que o resultado da parceria tornará a Embraer "uma empresa global mais forte, com acesso a novos mercados para o crescimento".

Garante que a empresa aproveitará o melhor dos dois mundos, isto é, "manterá sua identidade e presença local no Brasil enquanto se beneficia de uma plataforma global para aumentar sua franquia e criar mais oportunidades para sua força de trabalho".

Segundo a fabricante, a parceria com a Boeing posicionará a Embraer para "oferecer uma proposta de valor mais forte para clientes e outras partes interessadas", em razão de alavancar "uma cadeia de suprimentos global unificada, equipes de engenharia de classe mundial de ambas as empresas e uma rede de suporte global".

"Há um forte crescimento no mercado de aviação comercial, mas ele também está cada vez mais competitivo. Essa parceria estratégica colocará as duas empresas em melhor posição para lidar com o crescimento e fortalecer seus negócios".