Novo relatório prova a falta de representatividade feminina na música

Do total de 899 indivíduos indicados ao Grammy entre 2013 e 2018, 90,7% eram homens e 9,3% mulheres


Depois de pesquisar sobre a falta de diversidade em Hollywood, a Annenberg Inclusion Initiative, uma fábrica de ideias que estuda os problemas de inclusão nas mídias de entretenimento, decidiu focar no mundo da música. A escola Annenberg de Comunicação e Jornalismo da Universidade do Sul da Califórnia lançou seu primeiro relatório sobre a tema  nessa indústria e os resultados mostram que, assim como no cinema e na televisão, há uma grande necessidade de mais inclusão de mulheres na música.

O relatório mostrou que:

Em 2017, 83,2% dos artistas da música eram homens e apenas 16,8% mulheres. 

2017 marcou o sexto ano de queda de conteúdo popular feito por mulheres. Dos 2.767 compositores creditados, 87,7% eram homens e 12,3% mulheres.

73,8% das mulheres compositoras trabalharam uma vez em seis anos; 7,9% trabalharam duas vezes e 4,3% trabalharam três vezes. Menos de 6% das mulheres compositoras tiveram seis ou mais créditos no período de análise.

Nove homens compositores foram responsáveis por 1/5 de todas as músicas no período de análise.

No estudo, de 651 produtores, 98% eram homens e apenas 2% eram mulheres.

Um total de 899 indivíduos foram indicados ao Grammy entre 2013 e 2018. 90,7% eram homens e 9,3% mulheres.

Com o lançamento do relatório, as autoras do estudo esperam mudar os fatos. "É nossa primeira análise sobre o cenário musical. A primeira de muitas", disse Leah Fischman, Presidentedo Conselho da USC Annenberg Inclusion Initiative, que afirma que, nos próximos anos, o estudo será ainda mais profundo na investigação sobre a representação das minorias no mundo da música.

Billboard conversou com as autoras do estudo para saber quais estatísticas foram as mais chocantes e como a indústria pode agir de agora em diante, depois dos resultados obtidos:

Billboard: Quais foram as descobertas que surpreenderam mais?

Dra. Stacy L. Smith, Fundadora/Diretora, USC Annenberg Inclusion Initiative: Por seis anos nos rankings pop, as mulheres representaram apenas 22% dos artistas. 2017 foi o sexto ano de queda. É menos do que vemos em filmes, bem menos do que na televisão. As pessoas podem achar que as mulheres estão cre scendo na música, mas os números mostram uma forma particular de pensar. Descobrimos que apenas 12% dos compositores são mulheres. Também analisamos a contribuição de uma única pessoa em um recorte de 600 músicas e percebemos que apenas nove compositores homens são responsáveis por 1/5 de todas essas músicas. Isso foi surpreendente para mim. Por que nove homens estão ditando as regras sobre o consumo cultural? Por que apenas suas ideias sobre cultura, relacionamentos e experiências são transmitidas nessas músicas?

Apenas 2% de todos os produtores são mulheres. Isso resulta em 49 homens para uma mulher nessa área. De 300 músicas, apenas duas produtoras que não são brancas apareceram.

Para mim, essas três descobertas pontuam que há muito trabalho a ser feito, não apenas do lado artístico, mas também no que diz respeito a quem está tendo acesso à criação de conteúdo como compositor e produtor.

Na sua opinião, qual o motivo de poucas mulheres terem representatividade na indústria musical?

Dra. Kate Pieper, Pesquisadora, USC Annenberg Inclusion Initiative: A percepção de liderança pode influenciar como alguém é considerado para essas posições de criação. Dada a importância do papel do produtor, artistas e executivos podem ter um viés para produtores homens. Também descobrimos que quando a indústria cinematográfica pensa na figura do diretor, pensa em um homem. Acreditamos que aconteça o mesmo em relação ao papel de produtor. Queremos investigar mais a fundo a forma como a mente das pessoas dessa indústria funciona para entender o que pensam sobre essa função.

Dra. Smith: Se existe um protótipo saliente do que é um produtor musical e esse protótipo é masculino, mulheres terão muito trabalho para serem levadas a sério, consideradas para desempenhar aquele papel durante uma entrevista e durante o próprio ofício. Então é muito importante entender como artistas e executivos pensam sobre essa função.

Quais atitudes a indústria deveria tomar depois dessas descobertas?

Dra. Smith: Acredito que o primeiro passo seja dar uma boa olhada nos resultados e como são consistentes com a atual indústria musical: quem está assinando contratos, quem está sendo divulgado. A indústria precisa pensar em como ter práticas mais inclusivas desde a parte empresarial até o estúdio para ter certeza de que um talento tenha toda a oportunidade de ser visto e ouvido independentemente de gênero, raça ou etnia. Queremos que esses resultados sirvam para impulsionar novas investigações mais profundas, que gere conversas com executivos, produtores e compositores sobre os impedimentos que certos grupos enfrentam ao entrar na música ou manter uma carreira na indústria. Também queremos encorajar os consumidores a tomarem atitudes sobre os resultados - deixar que as empresas e os artistas saibam que mulheres compositoras importam, questionar os artistas com quem eles estão trabalhando na criação de músicas, criar discussões para que mulheres e pessoas que não são brancas conheçam os desafios que vão enfrentar e que podem ser parte da mudança.