Catar afirma que 80% da infraestrutura da cidade da final da Copa de 2022 está pronta
Projeto da Lusail City, no deserto catari, inclui três shoppings, linhas de metrô e um estádio para 80 mil pessoas; neste ano, a primeira arena deverá estar pronta
Se as duas últimas Copas enfrentaram constantes atrasos nas obras dos estádios e nos projetos estruturais das sedes das partidas, o Catar, que vai receber a edição de 2022 do torneio de futebol, parece que não tem dificuldades com as reformas.
A Qatari Diar Real Estate Investment Company, empresa responsável pela infraestrutura do Catar para a Copa, informou no mês passado que completou mais de 80% do projeto da Lusail City, erguida no deserto do país para ser a nova capital e sede da final do Mundial de futebol que acontecerá ali daqui cinco anos.
O CEO da empresa, Nabeel Mohammed Al Buenain, disse em entrevista ao jornal The Peninsula Qatar que serão gastos R$ 40 bilhões para desenvolver a estrutura, os serviços e outras facilidades na nova cidade. Ele ainda contou que o plano é acomodar 450 mil pessoas, incluindo 250 mil moradores, 190 mil trabalhadores de escritórios e cerca de 60 mil empregados no setor de varejo. A empresa ainda trabalha para levantar postos de gasolina, hospitais e escolas privadas no local.
Nabeel Mohammed Al Buenain revelou ainda que o primeiro dos três shoppings previstos no mapa inicial já foi construído. O periódico escreveu que algumas instituições do governo do Catar já começaram a se mover para Lusail.
A construção da nova cidade foi ordenada em 2014 pelo emir Sheikh Tamin. Segundo a Business Insider, o projeto de Lusail City já custa, no total, US$ 45 bilhões (R$ 165 bilhões) e inclui, claro, um grande estádio com capacidade para 80 mil pessoas cujo desenho se baseará no tradicional navio árabe Dhow. Os jornais cataris o chamam, por enquanto, de Sports Arena.
Além de Lusail, a capital Doha também parece mais um canteiro de obras do que uma cidade. O governo já terminou a construção de suas linhas de metrô para a Copa, toda feita por empresas estrangeiras, além de já ter erguido hotéis, quarteirões e uma infraestrutura que lembra as metrópoles ocidentais.
O jornalista britânico Ed Power escreveu um artigo recentemente na revista estadunidense Business Insider dizendo que Doha é "como se você fosse transportado do Oriente Médio para o século 23". Mais de 160 arranha-céus ocupam as margens da baía ocidental da cidade, e se espera que até 2022 as torres ultramodernas cheguem a 200.
"O melhor jeito de experienciar a vida do Catar é visitar o Souq Whaqif, no centro de Doha. Ele é uma corrente incarnação extensivamente reconstruída em 2006 e que parece uma Disneylândia árabe", continua Power em seu texto, se referindo a um bairro da capital do Catar com mercados, lojas, restaurantes e confeitarias.
A baía da capital possui um porto e uma ilha artificial de quatro milhões de metros quadrados com condomínios fechados, outros arranha-céus, uma réplica da Ponte de Rialto, em Veneza, na Itália, e showrooms da Ferrari e da Rolls Royce. O país já vende pacotes de viagens para atrair turistas antes mesmo da Copa da Rússia começar.
Tudo isso em meio a uma crise política: em junho, o Egito, a Arábia Saudita, o Bahrein e o vizinho Emirados Árabes Unidos cortaram relações oficiais com o Catar acusando-o de financiar grupos terroristas como o Hamas e o Estado Islâmico. As denúncias foram negadas pelo governo catari.
Um antigo entreposto britânico, o Catar é hoje uma das economias mais poderosas do Golfo Pérsico. Uma das fontes de riquezas do país está na segunda maior reserva de gás líquido do mundo, que permite ao governo pagar aos empregados estatais uma média de US$ 14 mil (R$ 52 mil) livres de impostos por mês. O dinamismo econômico é ainda mais visível considerando a modesta população de 2,2 milhões de pessoas, incluindo apenas 330 mil nativos cataris.
A 60 km ao sul de Doha, se encontra a região de Khawr al Udayd (chamada em inglês de Inland Sea), onde as águas azuis do Golfo Pérsico se intersectam com o deserto árabe. Ali é outro exemplo de estrutura em progresso para o Mundial.
Séculos atrás, o local era um refúgio de piratas. No século 19, quando o Catar era um protetorado britânico no Oriente Médio, corsários costumavam usá-lo como base de onde saíam para navegar pelos costas próximas. As tensões aumentaram em 1837, quando Abu Dhabi enviou uma frota para expulsá-los, iniciando uma guerra entre os cataris e o emirado vizinho.
Hoje, ao contrário, Khawr al Udayd é um destino popular para fugir da agitação, do trânsito e do calor de 50 graus de Doha. Espalhadas entre as dunas da porta do golfo se encontram caravanas repletas de antenas parabólicas: nos feriados, os cataris enchem a região em busca da praia, mas sem deixar de estar conectados em seus smartphones. O Catar é um dos poucos países do mundo que já oferece conexão 5G à Internet.
As diferenças entre Doha e Khawr al Udayd vão além do público: em dezembro, no inverno, a região próxima ao golfo beira os 22 graus. À noite, no deserto, já houve relatos de gente que morreu de frio. A capital, por sua vez, é uma das cidades mais quentes do mundo - o campeonato será realizado em janeiro para amenizar as temperaturas dos jogos durante o dia.
Iniciado em 2016, seis anos antes do mundial no Catar, o Al Bayt Al Khor Stadium deve estar pronto neste ano. Será a primeira arena da Copa que vai acontecer daqui cinco anos.