Antidepressivos podem salvar vidas. Isso significa que eles funcionam. Mas, por outro lado, eles são viciantes, esperançosos em permitir que as pessoas os tomem até que encontrem outras formas de terapias. De qualquer forma, não se tratam de medicamentos de longo prazo -- no máximo, em seis meses espera-se que já sejam vistos seus resultados práticos.
Seja porque a depressão é melhor diagnosticada agora ou porque vivemos em tempos ruins, mais e mais pessoas estão tomando pílulas de antidepressivos por semanas, meses e até anos. Em alguns casos, os usuários acham que não podem parar nunca mais.
Um estudo científico publicado no ano passado realizou entrevistas anônimas com um grupo de pessoas diagnosticadas com dependência de medicamentos prescritos, demonstrando a dependência moderna de antidepressivos. O mais famoso é o Prozac, ou seja, a fluoxetina, sempre descrita como uma droga capaz de fazer o mundo voltar a ser melhor para nós, sem os perigos obscuros do Valium, por exemplo.
Essas conclusões podem até ser verdadeiras para algumas pessoas, mas muitos usuários tiveram outras experiências para contar. Uma das entrevistadas da pesquisa contou, por exemplo, que quando tentou cortar as pílulas por meio de uma redução gradual das doses, ficou tão mal que precisou voltar a tomá-las. Na segunda tentativa, parecia que seria possível parar de tomar os antidepressivos, mas logo depois os sintomas de insônia, irritação e tontura voltavam com força.
O estudo, liderado pelos professores James Davies e John Read, de Cambridge, afirmou que 56% das pessoas que tentaram parar de tomar anti-depressivos sofreram com reações, e que 46% delas que responderam mal ao corte dos medicamentos tiveram reações severas. São dados problemáticos se se levar em conta que, somente na Inglaterra, sete milhões de pessoas consumiam remédios dessa natureza no ano retrasado, segundo o jornal britânico The Guardian.
Um psiquiatra australiano chamado Mark Horowitz publicou recentemente uma pesquisa sua numa revista britânica de artigos científicos que vem sendo estudada por estudantes de faculdades de farmácia pelo mundo. Nela, Horowitz cita uma imagem artificial do cérebro que demonstra que doses extremamente pequenas de antidepressivos também têm efeitos em seus objetos -- e, assim, reduções muito pequenas nas doses até quase nada permitem que o cérebro se acostume a funcionar sem os medicamentos. Sua pesquisa demonstra duas coisas.
A primeira é que a redução não pode ser feita em um prazo semanal, mas de meses e até mais lenta do que isso. A segunda é que, ao invés de reduzir repetidamente para cada dose, o melhor a se fazer é começar a tirar duas pílulas, depois uma, depois metade, depois um quarto, até que a porcentagem tomada seja a mínima possível. Fazendo esses pequenos ajustes, os usuários podem precisar de versões líquidas de suas drogas, ao invés das drágeas usuais. "O corpo se acostuma à presença da droga. É por isso que os sintomas reativos ao se parar de tomar os medicamentos são comuns. É importante que os médicos e os psiquiatras tenham em mente que esses sintomas existem e podem apresentar uma explicação sobre o porque isso está acontecendo", finalizou ao The Guardian.